A cefaleia é uma das queixas mais frequentes em serviços de neurologia e emergência, podendo variar de quadros benignos até condições potencialmente graves. Um estudo realizado pelo CEANNE, em parceria com universidades de vários estados, analisou como diferentes causas de dor de cabeça se relacionam com a necessidade de encaminhamento emergencial em hospitais do Rio Grande do Sul.
A pesquisa investigou o perfil epidemiológico, as causas sindrômicas mais comuns e o peso dessas etiologias na decisão de encaminhar ou não o paciente para atendimento urgente.
Método
Trata-se de um estudo transversal com 1.166 pacientes atendidos em 14 hospitais dos estados do Rio Grande do Sul e São Paulo, todos vinculados ao Advanced Center for Neurology and Neurosurgery (CEAN-NE).
Foram avaliados:
idade e gênero dos pacientes;
síndrome etiológica da cefaleia;
necessidade de encaminhamento emergencial entre abril de 2019 e outubro de 2022.
A análise respeitou integralmente a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD).
Principais resultados
Perfil dos pacientes:
42,7% mulheres
57,3% homens
Idade média: 55 anos
Distribuição etária: maior prevalência entre 47 e 78 anos, faixa associada ao aumento de doenças vasculares.
Encaminhamento emergencial:
283 pacientes (24,3%) precisaram de atendimento de urgência.
883 pacientes (75,7%) não necessitaram encaminhamento.
Causas etiológicas da cefaleia:
Metabólicas: 72,2% dos casos
Apenas 11,2% necessitaram encaminhamento emergencial.
Vasculares: 23,4%
44,8% precisaram de atendimento urgente — a etiologia com maior gravidade.
Traumáticas: 4,4%
24% com encaminhamento emergencial.
O estudo confirma uma tendência importante: cefaleias de causa vascular são as que mais exigem avaliação urgente, enquanto causas metabólicas predominam e costumam ter menor gravidade.
Conclusões
O trabalho reforça que, embora grande parte das cefaleias atendidas no CEANNE seja benigna, é essencial que serviços de emergência mantenham atenção redobrada aos quadros de dor de cabeça súbita, intensa ou associada a déficits neurológicos, já que essas apresentações estão mais frequentemente relacionadas a causas vasculares graves.
Os autores destacam ainda a necessidade de:
maior precisão diagnóstica no pronto-atendimento;
estratégias de prevenção e educação para reduzir visitas recorrentes à emergência;
acompanhamento especializado de pacientes de maior risco.
O estudo reafirma o papel do CEANNE na produção de conhecimento científico e na qualificação da assistência neurológica em hospitais públicos e privados.


